XX - XY
terça-feira, agosto 07, 2007
Balburdia
Eu continuo a sonhar para não morrer, continuo a tentar ficar, o sol brilha a cortina abre-se e um novo dia nasce. O girassol vira-se para o sol, porque sabe que a noite vem logo depois e segue-o incansavelmente até à manhã seguinte.
quinta-feira, abril 19, 2007
Roll the dice
Dás-me a mão? Sim porque de vez em quando falham-me as forças nas pernas, no corpo, na mente e caio redondo no chão. E detesto que me vejam espalhado qual passadeira usada e suja.
-Não, - diz ela com olhar altivo - sempre que queres andar só, acabas assim. Tens que aprender!
Não é uma história verdadeira mas foi o que o bébé pensou quando estendeu a mão e a mãe estava a falar com a amiga...
sexta-feira, abril 13, 2007
Liga-me
A ponte liga a margem ao início.
E do início apenas os restos materiais se prestam à graça da contemplação.
E da graça:
There's the moon asking to stay
Long enough for the clouds to fly me away
Well it's my time coming, I'm not afraid to die
My fading voice sings of love,
But she cries to the clicking of time
Of time
Wait in the fire...
And she weeps on my arm
Walking to the bright lights in sorrow
Oh drink a bit of wine we both might go tomorrow
Oh my love
And the rain is falling and i believe
My time has come
It reminds me of the pain
I might leave
Leave behind
Wait in the fire...
And I feel them drown my name
So easy to know and forget with this kiss
I'm not afraid to go but it goes so slow
JEFF BUCKLEY - "Grace"
segunda-feira, abril 09, 2007
Wired
Nas cordas da viola penduram-se coisas.
Sacodem-se pós de prés do antigo
e saltam verdades com força de elefante.
De volta ao bolso, o dedo da mão toca a unha
E reage aos químicos, amarelos e pretos,
Dançando no rio em cima das conchas de pálido bronze,
desço, já subo, já fico por cima e acabo no chão.
Amanhã à mesma hora, sobre a mesa de mármore pálido...
quinta-feira, abril 05, 2007
Walk that way
Num baú velho, rodeado por história e momentos,
uma mão nervosa tacteia o relevo esculpido por entre o liso.
Não há nada dentro do velho baú. Mas ao fechá-lo fica sempre a sensação de estar cheio.
O relógio avisa que já são quatro da manhã e perdes um minuto mais a ver o ponteiro dos segundos dar uma volta completa.
Sonhas com o sono e com a vontade de te perderes adormecida em pensamentos que não percebes e que não te lembras. Toca-te na esperança de te cansar e adormece num mundo quente.
quarta-feira, abril 04, 2007
It's easy to be somebody else.
Seguro.
Não precisava mas deitei-me e levantei os pés. Deixei-me ficar num quarto vazio, num quarto cheio.
Sozinho.
Não precisava mas abri os olhos e olhei em volta. Não precisava ver nada, parede, quadro.
Delicado.
Não precisava mas sorri. Não precisava mas senti-me bem.
Loucura.
Não precisava mas desenhei. Risco, traço, ponto.
Ponta.
Não precisava mas escrevi. Muito, depois pouco.
Nada.
quarta-feira, agosto 09, 2006
Condomínio.
Fui ontem à minha primeira reunião de condomínio. Cheguei atrasado como já é meu hábito e fui encontrar uma sala branquinha, nova, com cadeiras brancas de plástico.
Os supostos administradores do condomínio apressaram-se a ceder a cadeira para que eu pudesse assistir à dita reunião sentado. Menos mal.
A sala depressa se fez sentir quente. Sem ar condicionado, sem uma janelinha que fizesse circular o ar e com os meus trinta e cinco minutos de atraso potenciados pelos meus dez vizinhos que teimavam em respirar e expelir calor rapidamente se tornou uma pequena sauna. Começa mal.
Como se não bastasse, fui aterrar numa acesa discussão sobre 350m2 de relva escalrracho e hibiscos. A primeira coisa que pensei foi –“Que raio são hibiscos?” e a segunda – “Temos um jardim?”.
Não fazia ideia que tinha um jardim. Mas tenho. Nas traseiras do prédio, dizem eles, existe um jardim que para ser coberto de relva são necessário 350m2 de relva. Escalrracho ou semente era a decisão que tinhamos que fazer. Já os hibiscos, decobri que são pequenos arbustos. Doze pequenos arbustos que custam 200€.
O calor aumentava e a cada gota de suor que se me escorria na cara correspondia um determinado grau de desinteresse no jardim que nunca ia ver nem usar. O meu apartamento tem vista mar e não tenho uma única janela para as traseiras do prédio. Hibiscos, pinheiros, goiabeiras ou erva daninha eram para mim igual ao litro. Igual ao litro de água que ia beber assim que saísse dali.
Toda a gente opinou sobre o facto de a empresa que gere estes sintonizados condóminos ter também um empresa de jardinagem. A tal que cobra pelos hibiscos e que sugere a relva de escalrracho.
Este pequeno exercício de socialização e de gestão do bem comum demorou duas horas e a sala continuava muito quente.
Votamos todos, unanimidade, na relva e nos hibiscos. Duas horas depois. Unanimidade!
E fiquei a conhecer os meus vizinhos. Não todos porque pelo menos três, ao contrário de mim já deviam saber o que os esperava e não apareceram e outros cinco apartamentos não foram ainda vendidos. Há esperança, porque a julgar pelas pessoas que estavam sentadas a meu lado, a socialização não vai ser fácil. Até porque nenhum deles tinha aspecto de gostar de guitarra, filmes, surrounds ou festinhas com amigos.
Mas ficou a minha promessa de colaborar monetariamente com aquilo que for decidido em assembleia geral de condóminos e a promessa de nunca mais me apanharem naquela sala. Pelo menos enquanto fizer tanto calor e até usar o jardim que fica nas traseiras do prédio. Ou então até se decidirem a preparar a reunião com sumos frescos e uns queijinhos para palitarmos, ou uns chouricinhos...
terça-feira, agosto 08, 2006
Miscellaneous
Gosto do conceito de ter que abrandar o meu ritmo diário porque faz muito calor lá fora.
Gosto do linho branco que as senhoras usam nesta altura, das transparências e rendados que arejam tudo. Ah, o Verão!
Gosto de estar dependente do ar condicionado, confesso que sou ar-condicionado-dependente. Tudo no meu dia se resume ao tempo que vou estar fora do meu escritório e consequentemente longe do meu ar-condicionado. Mais que qualquer coisa na minha vida, o ar-condicionado, como o próprio nome indica, condiciona a minha vida de tal maneira que já não me regulo pelo dia e pela noite, mas sim pela medida 1, 2 e 3 e às vezes, aqui entre nós pelo “full blast” quando me sinto mais arrojado.
O meu metabolismo entra em “cruise mode” com este calor e não há nada que eu possa fazer a não ser sonhar com praia, areia, cocktails com pequenos guarda-chuvas coloridos, bikinis e volei de praia. Com nadadoras salvadoras que correm em câmara lenta, com veraneantes alinhadas de barriga para baixo a bronzear o corpo, de preferência separado por finas tiras de tecido. Vide - “Brasil”.
Ah, o Verão.
Vai tudo de férias. O governo vai de férias, a nata judicial vai de férias, vai tudo de férias. É assim que vemos a excelente organização de um país. Passamos o ano a fazer as coisas bem para que durante o mês de Agosto o Estado possa entrar em “stand-by”. Como é que isto se consegue? Na verdade é mais complicado do que parece. O truque é não fazer muito durante o ano todo, cobrar muito dinheiro por cada papelinho ridículo e induzir o povo a pensar que as coisas têm obrigatoriamente que demorar pelo menos uma semana. Porque só assim podem ir de férias e ninguém dá por nada. E se alguém incorrer no erro crasso de se dirigir a um organismo de estado a inquirir sobre determinado documento, eles podem sempre dizer, -“Venha para a semana”. E como está tanto calor, adiamos e de repente é Setembro outra vez. Ah, o Verão.
Mas o bom disto tudo é que as companhias que distribuem a água ainda não se lembraram da estratégia das companhias de combustíveis. Da maneira que estamos a gastar os nossos recursos naturais é no mínimo estranho que as companhias de água ainda não se tenham juntado para concertar os preços a que adquirimos a preciosa H2O. É que até os executivos que vendem os barris de petróleo precisam de beber água. Giro, giro era irmos todos a Espanha encher os garrafões.
Ah, o Verão.
segunda-feira, maio 15, 2006
Despertar
Era rosa e amarela e verde e castanha. As folhas tinham ainda um leve tom cinzento do pó que acumulara durante o tempo esquecido no balcão da loja.
quinta-feira, maio 11, 2006
A espera deixa-me vazio
Lembro-me de seguir atentamente a lua à espera de a despistar, sem sucesso.
Lembro-me de passar, impaciente, de um lado para o outro no banco de trás à medida que o meu Pai me levava de volta a casa e a lua parecer saber para onde iamos.
Lembro-me de pensar se a lua saberia onde eu morava.
Lembro-me de perguntar ao meu Pai se a lua “andava”.
-Sim – respondi eu
-Pois então, ele está sempre no ar não está?
-Está
-E porque vai ele sempre atrás de ti?
-Porque o amarraste ao meu pulso!
-Assim como o balão, também a lua está amarrada a ti. Só não vês o fio para que os outros meninos não fiquem tristes. A lua é tua e está amarrada a ti, por isso segue-te sempre para onde fores, mesmo quando não a vês ela está sempre ligada a ti.
-A sério? A lua é minha?
-Claro! Ela não está aí?
-Está...