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quarta-feira, agosto 09, 2006

Condomínio.



Fui ontem à minha primeira reunião de condomínio. Cheguei atrasado como já é meu hábito e fui encontrar uma sala branquinha, nova, com cadeiras brancas de plástico.

Os supostos administradores do condomínio apressaram-se a ceder a cadeira para que eu pudesse assistir à dita reunião sentado. Menos mal.

A sala depressa se fez sentir quente. Sem ar condicionado, sem uma janelinha que fizesse circular o ar e com os meus trinta e cinco minutos de atraso potenciados pelos meus dez vizinhos que teimavam em respirar e expelir calor rapidamente se tornou uma pequena sauna. Começa mal.

Como se não bastasse, fui aterrar numa acesa discussão sobre 350m2 de relva escalrracho e hibiscos. A primeira coisa que pensei foi –“Que raio são hibiscos?” e a segunda – “Temos um jardim?”.

Não fazia ideia que tinha um jardim. Mas tenho. Nas traseiras do prédio, dizem eles, existe um jardim que para ser coberto de relva são necessário 350m2 de relva. Escalrracho ou semente era a decisão que tinhamos que fazer. Já os hibiscos, decobri que são pequenos arbustos. Doze pequenos arbustos que custam 200€.

O calor aumentava e a cada gota de suor que se me escorria na cara correspondia um determinado grau de desinteresse no jardim que nunca ia ver nem usar. O meu apartamento tem vista mar e não tenho uma única janela para as traseiras do prédio. Hibiscos, pinheiros, goiabeiras ou erva daninha eram para mim igual ao litro. Igual ao litro de água que ia beber assim que saísse dali.

Toda a gente opinou sobre o facto de a empresa que gere estes sintonizados condóminos ter também um empresa de jardinagem. A tal que cobra pelos hibiscos e que sugere a relva de escalrracho.

Este pequeno exercício de socialização e de gestão do bem comum demorou duas horas e a sala continuava muito quente.

Votamos todos, unanimidade, na relva e nos hibiscos. Duas horas depois. Unanimidade!

E fiquei a conhecer os meus vizinhos. Não todos porque pelo menos três, ao contrário de mim já deviam saber o que os esperava e não apareceram e outros cinco apartamentos não foram ainda vendidos. Há esperança, porque a julgar pelas pessoas que estavam sentadas a meu lado, a socialização não vai ser fácil. Até porque nenhum deles tinha aspecto de gostar de guitarra, filmes, surrounds ou festinhas com amigos.

Mas ficou a minha promessa de colaborar monetariamente com aquilo que for decidido em assembleia geral de condóminos e a promessa de nunca mais me apanharem naquela sala. Pelo menos enquanto fizer tanto calor e até usar o jardim que fica nas traseiras do prédio. Ou então até se decidirem a preparar a reunião com sumos frescos e uns queijinhos para palitarmos, ou uns chouricinhos...

posted by Mike at 8/09/2006 01:14:00 da tarde

4 Comments:

Pois é!para quem dizia que a poesia era como uma salsicha crua ,que se comia na mesma, denoto, sem muita surpresa, uma GRANDE evolução!Escreves o que sentes e o que sonhas com uma limpidez e ingenuidade que...só podes ser um génio!Lembra-te:és sempre melhor que ao que julgas.Mas estaremos sempre aki para te vigiar de muito perto........

5:52 da tarde  

Olá passei para te convidar a dares uma espreitadela ao meu blog.

10:20 da tarde  

enfim agora já sabes o que são essas reuniões e o que significa unanimidade.............
gostei da decisão que é a minha tb
jocas maradas

7:59 da tarde  

Eis uma história de ...Fica ao critério do contador de histórias, o nome para esta história:

"- Conta-me uma história.
Porquê um mar azul? Quero ver um de nenúfares vermelhos!
Não quero a cor rosa dos teus lábios, a tua voz desafinada, as tuas palavras sem rima. Dá-me antes a tua habilidade de Deusa.

- Vá lá ! Conta-me uma história!
Tira-me daqui! Leva-me para longe de ti, eu não te quero assim. Tu não eras assim quando te ia buscar à tua inexistência. Eras tão bela na nudez dos trapos que inventei para te vestir de mim!

- Por favor, conta-me uma história!
Eu não quero viver isto, eu não sei viver isto!!! Não gosto desse teu cheiro a realidade, dessa tua alma cheia de gente. Volta minha musa de enganos, não me abandones. Eu não quero acordar, tenho tanto medo, vem para o meu sonho, por favor!!!

-Eu preciso de uma história!!!
Será que não percebes? Tenho que te ensinar que não aprendi ainda a aceitar a realidade? Então, afinal tu és igual a mim? Nós somos iguais a mim? É isto? É só isto?

-Foda-se, conta-me qualquer merda de história!!!
Mas leva-me para bem longe de mim! Para onde as ondas não quebram, mas se agigantam para morrerem de amor na praia.

Eu pedi-te tantas vezes que me contasses uma história, eu pedi, não pedi?!"

Esta história não era minha, tive que a devolver!

Uma abraço.

5:02 da tarde  

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