XX - XY
quarta-feira, setembro 21, 2005
Na orla, perdi o olho
Não tinha por hábito andar. Gostava muito mais de deslizar a escassos centimetros do chão, pairando sempre que sentia no rosto a fresca brisa do mar.
É quando fico mais vulnerável. Os projécteis arremessados raramente falham o alvo e eu acabo sempre no chão.
A linha de cal branca na areia delimita o meu espaço e a minha liberdade de seguir em frente. Nunca ousei pisá-la e transpô-la era completamente impensável.
E se pisar o risco sem ninguém ver? Minto e sigo com a minha vida! Digo que não pisei e nunca ninguém saberá que abusei da minha liberdade.
Ninguém está à espera que o faça e ninguém vai olhar para este lado quando me aproximar lentamente do risco.
Empurrado pelos ventos quentes do vapor da panela que deixa ferver a água, debruço-me preguiçosamente do fim da minha liberdade para descobrir, quando me volto curiosamente para trás, que todos olham para mim.
Decidi não olhar para o risco e esquecer que a minha liberdade tem um limite.
E agora sou eu que olho. E vejo tudo...