XX - XY

sábado, setembro 18, 2004

O riso que me contagia...

De repente o silêncio...
Sentiu as paredes do quarto ficarem cada vez mais longe, longe.
A pálida luz da vela afastava tudo de si, estava longe.
Como se tudo estivesse a crescer ou então ele a diminuir.
E de repente fixou um ponto na parede e deixou-se ir na tenebrosa escuridão, perdido e assustado. Sentiu um frio percorrer-lhe o corpo e ouviu música. Não conseguia perceber o que era, mas acalmou-o por momentos.
-Isto já foi longe demais, é sempre a mesma coisa. Adormeço e depois sonho estas merdas. Agora já sinto o frio e ouço música. Não deveria ouvir música. Não se ouve música nos sonhos. Nem deveria perceber ali o letreiro vermelho que diz “NO LOITERING ALLOWED”. Não se lê nos sonhos. Não se vê cores nos sonhos.
As asas de algo levantaram vento suficiente para levá-lo pelo ar, como se de uma pena se tratasse. Rodopiava e caía. Rodopiava e levantava voo outra vez, sempre sem tocar o solo. Era leve, muito leve, tão leve e pequeno que nem se sentia vivo. Por debaixo de si via luzes de todas as cores que de maneira estranha lhe aqueciam a alma, ou outra coisa qualquer que lhe trazia bem estar.
O rodopiar no ar deixava-o perdido e desorientado, ouvia pessoas a falar,
-Estarão mesmo a falar?
gritos e risos, barulhos ensurdecedores e silêncios assustadores,
-Mas afinal o que se passa?
as luzes pareciam fundir-se num espectro confuso até tudo ser branco, depois vermelho, depois preto. Tudo era preto e já não se ouvia nada a não ser o barulho de algo muito pequeno a cair, a rodopiar num imenso mar negro de ar...
-Sem dúvida o sonho mais estranho que tive... Estranho é que sinto-me acordado, consigo até controlar os meus movimentos e pensar. Quando acordar quero lembrar-me disto. Nunca tinha sonhado que estava a voar. Pensando bem, não estou a voar, estou a cair, mas este silêncio... E esta escuridão não me deixa ver o solo, não há chão?
O instinto levou-o a mexer os braços. Percebeu que se o fizesse ritmadamente conseguia controlar a sua queda e eventualmente elevar-se. Estaria mesmo a elevar-se? Ou simplesmente a pairar? Não o conseguia perceber...

A continuar...


FireHand by Motiongraphicdesign

I'm Open


A man lies in his bed in a room with no door
He waits hoping for a presence, something, anything to enterA
fter spending half his life searching, he still felt as blank
As the ceiling at which he's staring
He's alive, but feels absolutely nothing
So, is he?
When he was six he believed that the moon overhead followed him
By nine he had deciphered the illusion, trading magic for fact
No tradebacks...So this is what it's like to be an adult
If he only knew now what he knew then...

Vedder in "No Code", I'm Open





posted by Mike at 9/18/2004 11:25:00 da tarde

3 Comments:

Ah, grande álbum o No Code!! Muito bom!
Enfim...Penso que há risos que contagiam mas também há lágrimas que viciam. No conjuntto prazer/dor (carnal e espiritual) há um misto inalienável. Cada um depende do outro, tal como o doce e o amargo.
De qq forma, há sentimentos difíceis de descrever (ou mtos mm!).
Mas há uma frase que li recentemene e de que gostei mto: "O desespero, May, é um sentimento sem voz" - K. Gibran

PS - A foto tá lá!

Lewton

3:58 da tarde  

(O Eddie é poeta. Sou suspeita mas isso não faz com que ele deixe de ser poeta.)

Este texto deu-te um prazer especial, não é uma pergunta. Andas a "re-ouvir" o que deves e não páres os risos que te contagiam. Depois um dia também apanhas com
- Os fumos dão excelentes textos
comentários destes, que te cheiram a terra molhada. Porque não foram precisos fumos para que de repente eles existam.
(A tal estória dos meus olhos aos olhos dos outros.)
**

3:29 da tarde  

O sonho quebra o silêncio pelo seu poder imponente de atravessar a noite escura e de fazer divagar o pensamento aliado às emoções mais fortes e sensações mais reais que obtemos, tão mais apetecíveis do que quando abrimos os olhos. Continua voando no teu sonho que traz o sonho a quem o lê e reencontra as suas asas nas tuas palavras soltas, plenas de uma polissemia misteriosa e cativante. Continua encontrando esse eu que esvoaça e ouve música e que reencontra o adulto e a criança num só momento, desperto para a magia do corpo semi-adormecido, mas que não deixa, de forma alguma, de existir e de pensar. Nele pulsa a vida, mesmo de olhos fechados. No meu sorriso silencioso, ficou gravado o som do riso feliz que o teu devaneio deixou em mim. Não páres. Voa e descobre-te. Encontra-te e reencontra-te.Traz esses teus sonhos para a vida e acredita que, ao ler esses pequenos grandes mundos que navegam no teu espírito, fico também eu com vontade de te dar um pouco do meu mundo que se cruza com o teu numa dimensão feita de momentos felizes e de uma lógica, por vezes, tão incompreendida. Continua... Quero sorrir mais vezes.

8:38 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home