XX - XY

É noite.

A pálida luz que reflecte na àgua faz-me recordar as horas intermináveis que passei a contemplá-la, tentando compreender o que causava aquele fascínio. Era algo estranho mas extremamente bonito o que me prendia àquele quadro, tantas foram as noites que se tornaram dias enquanto viajei por entre o mais belo dos horizontes, tornando-me menino e velho enquanto tentava perceber se alguem me estava a observar. Era curioso como o tempo não parecia acabar enquanto sentado de café na mão tornava a olhá-la e a suspirar fundo.
Ela fazia-me suspirar fundo. Era inato. Mal lhe tomava vista todo o meu corpo se juntava para lhe dedicar a maior atenção e devoção possíveis, se calhar porque eu sabia sem saber que era ela quem mais importava, era para ela que vivia e para ela que dedicava tudo o que tinha. Ela sabia-o.
A Lua tinha esse poder sobre mim. Chamava-a assim, Lua.
A vida de um Homem, resume-se a isto, à atenção que dá à sua Lua. Tudo à volta se esmorece para explodir num concerto de criação e organização, mestria e côr que a tudo desafia e tudo une.
E por mais uma noite senti que fazia parte de algo e tudo era parte de mim, talvez porque nada parecia fazer sentido e tudo se explicava com um olhar...
É quase noite outra vez e ela já não brilha hoje...