XX - XY

quarta-feira, maio 10, 2006

DreamCatcher


Era dia, o sol beijava o alto da manhã e eu senti o chão tremer.

Não eram bem saudades e o anglicanismo não me permitia sentir um “I miss you”, mas mesmo assim tomei banho, vesti-me e enfrentei as horas que tinha pela frente. Abri a porta e enchi os pulmões com o ar que era um misto de odores de pequeno-almoço e detergente.

Esperei o que penso terem sido quatro segundos, voltei-me e tranquei a porta com 2 voltas de chave. Carreguei no botão que avisa o elevador que tenho que descer e dois pisos depois aí estava ele, timidamente aberto à minha espera. Entrei sempre de olho no espelho enorme e ajustei a gravata e a camisa, ritual diário e o elevador deixou-me como combinado na garagem.

Abri o carro e sentei-me, uma volta na chave e já o combustível queimava, poluindo o ar. Ligo o rádio e o concerto que tinha ficado a meio na noite anterior, continuava agora com a mesma intensidade. Baixei o volume, porque concertos de manhã ouvem-se baixinho.

Engreno a marcha-atrás e abro a porta da garagem com mais força do que o habitual, porque a pilha do comando já cansada não tem força e o portão é pesado.

Saio e enfrento o sol. Apresso-me a colocar os óculos de sol para o enganar e esconder-me por mais um bocadinho no escuro.

Tento imaginar que por detrás do céu azul escondem-se também as estrelas, os cometas, os satélites e os estraterrestres que só passeiam de dia porque ninguém os vê.

Percebo que já quatro dos meus sentidos acordaram e páro no sinal vermelho. Ri do homem do tempo que anunciava ontem céu muito nublado e pergunto-me se esta manhã andará de guarda-chuva ou casaco.

Já vi de tudo.

Alheio ao sinal que já verde fazia soar as buzinas dos carros atrás de mim, acordei pela segunda vez e iniciei a marcha do meu carro. Embraiagem, primeira, embraiagem, segunda e lá fomos os dois adormecidos e preguiçosos pelo único caminho que nos era permitido e com uma sensação de injustiça embraiagem, segunda, travão, embraiagem, terceira.

Devia ter vindo de comboio, ou autocarro, ou táxi. Não existem comboios aqui. Hoje, com este “I miss you” a música da Jewel que entretanto substituiu o concerto sabe-me especialmente bem. “I’m leaving on a jet plain and I don’t know when I’ll be back again”

E chegamos seguros e confortáveis, dadas as circunstâncias a mais um dia de trabalho. Deixo o carro onde ele pode dormir por mais umas horas e desligo-me de mim para poder produzir.

Entro pela porta grande que dá acesso a um hall com mais mármore do que era necessário e lentamente vou cumprimentando as pessoas que se me cruzam.

Ainda falta tanto tempo para te poder abraçar...

posted by Mike at 5/10/2006 10:55:00 da manhã

1 Comments:

A leitura nos faz sempre um bem exacerbado..pois sempre nos deparamos com algo que acontece no nosso cotidiano..em nossas rotinas..nas nossas situações;as mais adversas por sinal..e esse texto traduziu de uma forma simplória,algo que embora tanto nos reclamemos,sentimos falta quando estamos longe dela..a velha ROTINA!!

8:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home